quinta-feira, 8 de novembro de 2012

de Martha Medeiros:

"Uma pessoa é sempre bruta com você? Não é preciso conviver com ela. O cara está enrolando muito? Beije-o primeiro. A resposta do emprego ainda não veio? Procure outro enquanto espera. Paciência só para o que importa de verdade. Paciência para ver a tarde cair. Paciência para sorver um cálice de vinho. Paciência para música e para os livros. Paciência para escutar um amigo. Paciência para aquilo que vale nossa dedicação."

"Não tenho nada a ver com o que é dos outros, seja roupas, gostos, opiniões ou irmãos, não me escalo para histórias que não são minhas, não me envolvo com o que não me envolve, não tomo emprestado nem me empresto, se é caso sério eu me doo, se é bobagem eu me abstenho, tenho vida própria e suficiente para lidar, sobra pouco de mim para intromissões no que me é ainda mais estranho do que eu mesma."

"Para que lado eu dobro se quiser sair deste engarrafamento de emoções, se quiser ter um relacionamento único e estável, um amor que me resgate dos arranques e das freadas súbitas deste meu coração mal-regulado? Às vezes da vontade de encostar o carro e fazer esse tipo de pergunta para o casalzinho apaixonado que está aos beijos na parada de ônibus."

"Não sei porque faço coisas que não tenho vontade, não sei porque me deixo enganar por mim mesma tantas vezes. Não sei porque me dá mais satisfação ficar em casa lendo um livro do que ir a uma festa, não sei porque me atrapalho socialmente, porque me prefiro calada, porque todo mundo parece tão mais à vontade do que eu."

"Às vezes me sinto uma anciã, lamentando o quanto a vida está ficando miserável. Não se trata apenas do miserável sem comida, sem teto e sem saúde, mas da NOSSA MISÉRIA OPCIONAL. Abreviamos sentimentos, abreviamos conversas, abreviamos convivência, abreviamos o ócio e fazemos tudo ligeiro."

"Vítimas do quê? Das nossas próprias exigências. Que eu saiba, não há ninguém nos apontando uma faca e nos obrigando a sermos perfeitos."

"Pré-adolescentes, ainda cheirando a danoninho, beijam três, sete, nove numa única festa e voltam para casa tão solitários quanto saíram. Dois estranhos transam depois de uma noitada na balada e despedem-se mal lembrando o nome um do outro. Quanto mais rápidos no ataque, quanto mais vorazes em ocupar mãos, bocas, corpos menos espaço haverá para intimidade, que é uma coisa bem diferente disso."

"Toda separação entre pessoas que se amam é infantil."

"Quem apostaria num amor idealizado? E se nossa intuição for mesmo a melhor conselheira e não merecer ser desprezada?"

"Se você ainda tem um amor escondido no armário, no fundo de alguma gaveta, trancafiado em algum lugar, não jogue fora. Dê para alguém que esteja precisando."

"Certas pessoas tem uma aparência decente e altiva, mas são ocas por dentro. Como descobrir as diferenças? Não se deixando levar por preconceitos e ideias prontas."

"Quando eu pisava na bola com alguém - amiga, marido, mãe, empregada -, mergulhava em culpa, considerava a relação perdida, até que me ocorreu uma frase milagrosa para solucionar impasses: "ME DESCULPE". Funciona que é uma maravilha."

"Hoje, adulta, sei que descobrir a índole de alguém é um processo muito mais complexo, mas ainda me surpreendo que algumas pessoas façam certas diferenciações. O relacionamento entre empregados e pratões ainda é uma maneira de se perceber como certos preconceitos seguem bem firmes."

"Quando a gente é criança, acha que todo mundo é legal, que todo mundo é da paz, e de repente começa a crescer e vai descobrindo que não é bem assim. Eu lembro que, ainda menina, foi um choque descobrir que as pessoas mentiam e enganavam. Por que aquelas pessoas não eram bandidas: eram colegas de aula, gente conhecida."

"Eu queria o impossível: Olhar para uma pessoa e saber o que poderia esperar dela. Seria uma pessoa do bem? Do mal? Veria a me decepcionar? Todas as pessoas decepcionam, todas cometem erros, mas eu queria encontrar alguma espécie de comportamento que me desse uma pista segura sobre com quem eu estava lidando."

"Tem gente que abre mão disso por puro comodismo. Prefere ser uma sombra. Defende-se dizendo que não tem outro jeito. MENTIRA. É uma escolha. Nada de se fazer de desentendida só para não se incomodar. Incomode-se."

"Vida. A única coisa que a gente realmente tem - viemos do nada e para o nada voltaremos. Sempre que me dou conta disso, fico boba com a quantidade de tempo que desperdiçamos fazendo coisas das quais não gostamos, dizendo amém para o que não concordamos e aceitando regras pré-estabelecidas em nome da ordem social. No fundo, malucos somos nós, os que mantém pouco contato com a natureza, os que se protegem contra emoções."

"Depois de nascer, a gente demora pra falar, demora pra caminhar, ai mais tarde demora pra entender certas coisas, demora pra dar o braço a torcer. Viramos adolescentes teimosos e dramáticos. Levamos um século para aceitar o fim de uma relação, e outro século para abrir a guarda para um novo amor, e já adultos demoramos para dizer a alguém o que sentimos, demoramos para perdoar alguém, demoramos para tomar uma decisão. Até que um dia a gente faz aniversário. Uma idade qualquer que esteja no meio do trajeto. E a gente descobre que o tempo não pode continuar sendo desperdiçado. Sem muita frescura, sem muito desgaste. TUDO O QUE A GENTE QUER, DEPOIS DE UMA CERTA IDADE, É IR DIRETO AO ASSUNTO."

"Admito que os valores atuais andam sem pai nem mãe, sobrevivendo às custas da boa vontade de poucos. Estou quase convertida, notem. Mas, de fanatismo, ME POUPEM,"

"Nem se discute: discrição é uma qualidade rara. Gente que não fala muito sobre si mesmo e que não conta vantagens é um luxo."

"Ela é como o urso panda, está quase extinta do planeta. Quando alguém a ouve dizendo "Sou mulher de um homem só", corre para o celular mais próximo e chama a imprensa para documentar. Quem é, afinal, essa mulher tão rara?"


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